sábado, 20 de julho de 2013
Batalha: “Carrossel” x “Chiquititas”
Chegou a hora da maior batalha de todos os tempos, a novela infantil de sucesso entre a galerinha miúda de hoje em dia versus a história que marcou a infância das crianças da década de 1990. Isso mesmo, “Carrossel” contra “Chiquititas”, praticamente um duelo entre gerações diferentes. Para decidirmos qual novela é a melhor, preparamos uma batalha seguindo os moldes dos arranca-rabo feitos pelo Blog de Música do POP e vamos decidir essa peleja em diversas categorias. Quem será que leva o prêmio de melhor novela infantil?
As novelas infantis têm o poder de incentivar as crianças, isso é fato. Se a Maria Joaquina aparecesse na tela do SBT e ordenasse a todas as crianças do Brasil a comer espinafre porque é a coisa mais legal do mundo, íamos ter uma falência coletiva de todas as redes de Fast Foods porque as crianças seriam influenciadas pela menina.
“Carrossel” vende a ideia de ser muito legal ser aluno de uma escola, algo muito bom para o desenvolvimento do país. Contudo, “Chiquititas” vende a glamourização dos órfãos, assim como as histórias do Batman e do Harry Potter. Basta ver as crianças da década de 1990, todas achavam muito legal aquela vida cheia de danças e cantorias, sem reparar que se tratavam de crianças abandonadas pelos pais biológicos à espera de uma nova chance de ser feliz. E “Chiquititas” não fazia o menor sentido, porque os vizinhos do orfanato também abandonavam os pais só para morar naquele orfanato como se aquele lugar fosse uma casa feita de doces.
Por vender uma ideia deturpada da vida, “Chiquititas” vai ganhar apenas uma estrelinha. Já “Carrossel” leva já cinco estrelinhas por incentivar o futuro do país através da educação.
Todo grupo de crianças tem um destaque que funciona como líder. Em “Carrossel”, a mandante é Valéria só porque a apresentadora, atriz e cantora (não é, Sílvia) é a favorita do dono da emissora. Valéria dita as ordens comportamentais na Escola Mundial, decide quem deve ser excluído do círculo de amizades e é a cabeça por trás das artimanhas das crianças. Já a Mili é a representante das crianças órfãs de “Chiquititas”. Ela contava histórias para as meninas com o intuito de ensinar lições de moral, cantava, era carismática e conseguiu se curar de uma cegueira (!) adquirida após cair de um cavalo (!!!), tornando Mili em uma versão feminina de um messias religioso. Também pudera, sua mãe é a incrível mulher que conseguiu se curar do autismo.
Por transcender o nosso conhecimento de mundo, Mili leva duas estrelinhas. Valéria leva uma só, e só porque puxou a peruca do Sílvio Santos.
Em “Carrossel”, o capeta em forma de menina é Maria Joaquina, a garota esnobe e preconceituosa. Do alto de seu ego superior e de seu iPad, Maria Joaquina constantemente humilha Cirilo e todos os outros personagens dos núcleos desfavorecidos monetariamente… e os idosos… e os feios… bem, Maria Joaquina odeia tantas pessoas que ela seria eliminada na primeira semana do “Big Brother Brasil”, isso sem nem ao menos ser indicada ao paredão.
Já a Bia não era tão cruel, e sua malvadeza era justificada pela novela através da desculpa naturalista de ela ter sido criada nas ruas e em um orfanato. Porém, ela fez uma maldade muito maior que qualquer Maria Joaquina: Bia fez uma colega de orfanato ficar paraplégica após cair da escada. Claro que a menina se curou depois (provavelmente graças aos poderes mutantes de Mili), e tudo ficou bem.
Vamos considerar um empate. Bia leva uma estrela porque fez uma grande maldade, e Maria Joaquina ganha uma por ter passado a tratar bem Cirilo só depois que o pai do menino ganhou dois milhões na loteria.
Vamos analisar apenas a vida amorosa de Professora Helena e da Diretora Carolina. A professora da Escola Mundial é mais recatada, afinal conheceu o professor Renê na metade da novela e até hoje está com ele, conversando sobre a situação da educação no Brasil e tomando sorvete no parque. Já a Carolina serve para mostrar às crianças que o amor para toda a vida não existe, porque durante toda a novela “Chiquititas” ela se envolveu com pelo menos quatro homens: Junior, Fernando Brausen, Felipe Ayala e Manoel Ayala (sim, ela pegou irmãos gêmeos).
Estava pronto para deixar “Chiquititas” com estrelas negativas graças ao periguetismo de Carolina, mas a Marcha das Vadias nos ensinou que as mulheres têm o direito de ficar com quem quiserem e com quantos acharem conveniente, assim como os homens. Por isso, cada uma vai ganhar uma estrela para cada amor: Carolina leva quatro e Helena leva uma.
Toda novela infantil precisa de uma velha especializada em descontar as frustrações da vida tratando as crianças com severidade. O papel em “Carrossel” é Olívia, a diretora com cara de sapo e constantemente abanada por um leque roubado do closet da Nanny People do “Cante se Puder”. A amargura dela é por falta de homem, por isso ela já foi vista em sites de relacionamento tentando descolar um partidão. Como não deu certo, ela descarregou o ódio sendo uma carrasca com as crianças.
Em “Chiquititas”, Carmen era a antiga diretora e dona daquele local que atende pelo nome de Orfanato Raio de Luz. Ela era apenas uma senhora amarga criada durante o período da ditadora militar, discordando dos métodos subversivos e revolucionários de educação (todos baseados em amor, compreensão e em músicas porcamente traduzidas do espanhol) levados ao orfanato pela periguete Carolina.
Nessa competição, Carmen leva duas estrelas por ser uma carrasca e ter dois clipes musicais em que é transformada em uma bruxa. Já Olívia leva apenas uma, só porque fiquei assustado demais com a diretora para deixá-la sem pontos.
“Carrossel”:
“Chiquititas”:
Quem é “Beijo, Beijinho, Beijão” no cenário musical brasileiro quando temos “CORAÇÃO COM BURAQUINHOS” (escrita em caps lock por causa da imensa contribuição cultural à música infantil brasileira)? “Chiquititas” leva cinco estrelas, uma para cada buraco no coração da órfã Maria. Já “Carrossel” vai levar nada, e ponto final.
Seguindo a filosofia “Power Rangers” de diversidade étnica e cultural, todos os programas infantis costumam ter cotas para que nenhuma etnia se sinta marginalizada. “Chiquititas” trazia um orfanato repleto de crianças brancas de olhos claros, quase uma máfia liderada por Mili. Rompendo a ditadura das pessoas com menos melanina, logo entram alguns órfãos negros , como Pata e seu irmão Mosca, inicialmente segregados pelo resto do grupo.
Já “Carrossel”, meu filho, isso sim que é diversidade. Temos alunos brancos, negros, magros, gordos, judeus, fofoqueiros (espera, isso não é cota…), cadeirantes, órfãos, pobres, pobríssimos, ricos, novos, velhos, orientais. Só faltou um aluno de esquerda e um homossexual para ser um painel perfeito da diversidade brasileira.
Por causa da variedade, “Carrossel” leva nada menos que duas estrelinhas, enquanto “Chiquititas” fica sem nada.
O bullying é como a gordura saturada: é algo que sempre existiu, mas agora decidiram decretar que é um malefício para a humanidade, quando na verdade ambas só fazem mal em doses cavalares. “Chiquititas” não sofria de bullying, pois todas as crianças se ofendiam mutualmente com igualdade. Porém, em “Carrossel”, a doença do século XXI foi elevada a níveis astronômicos com as crianças fazendo maldades com todos, porém sendo punidas pelas brincadeiras porque hoje isso é errado.
As duas novelas levariam zero estrelinhas por causa das crianças arteiras. Porém, “Carrossel” tem Maria Joaquina, a sócia do coisa ruim, então ela sozinha vai levar quatro estrelinhas.
Resultado final: “Carrossel” 15 x 15 “Chiquititas
Empate. Não tem como decidir a melhor novela infantil, pois sempre vamos considerar melhor a que vimos durante nossa infância.
Fábio Garcia
As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor do texto, e não reflete a opinião do blog Equipe Chiquititas.
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