ARETHA OLIVEIRA, A EX-CHIQUITITA PATA (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Única atriz do elenco mirim a ficar do começo ao fim, hoje ela atua em produções de TV argentina
Aretha Oliveira foi a única chiquitita que atuou do começo ao fim da trama, permanecendo na novela de julho de 1997 a janeiro de 2011, sempre com destaque expressivo na história infantil. Paulistana, a atriz, de 27 anos, voltou a morar em Buenos Aires há cerca de quatro anos e se divide entre o Brasil e a Argentina desde então. Ela conversou com QUEM, por telefone, direto da capital argentina.
Famosa por ter interpretado a ex-menina de rua Pata, Aretha acredita ter ficado marcada pela personagem, mas não faz disso um bicho de sete cabeças. Na volta à Argentina, estudou canto, dança e comédia musical e conquistou novas oportunidades de trabalho. Ela também assegura nunca ter sofrido preconceito racial por lá. "Não sofri preconceito em nenhum momento, nem no colégio, nem no trabalho. Como na Argentina tem poucos negros, eles acham linda a cor", afirma a atriz, que namora um argentino atualmente.
QUEM: Qual a melhor recordação da época de Chiquititas?
ARETHA OLIVEIRA: São tantas coisas. Como eu era muito criança, acho que não tinha tanta noção da oportunidade de viver fora do Brasil, mas certamente foi uma grande chance. E eu achava que "Chiquititas" duraria como uma novela normal - de oito a dez meses no máximo.
QUEM: Qual foi a maior dificuldade ao ir morar na Argentina?
A.O.: Sofri um pouco porque tive que deixar os amigos, o pai, o irmão, o cachorro aqui. Só fui para a Argentina com a minha mãe. Mas, depois, você cria novos amigos. Sem falar que a produção acaba te acolhendo.
COM PIERRE BITTENCOURT, O CHIQUITITO MOSCA, SEU IRMÃO NA NOVELA (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
QUEM: Você permaneceu durante toda a trama. Em que momento se tocou o sucesso que era ser chiquitita?
A.O.: A gente não tinha noção de todo o sucesso que era. Na primeira vinda para o Brasil, depois da estreia, deu para perceber, mas acho que a gente não teve toda a dimensão. Quando vínhamos para o Brasil, era rápido. Ficávamos no hotel e a vida era do hotel para o SBT, do SBT para o hotel. Vir para o Brasil participar dos programas e ver os fãs era como se fosse um sonho. Quando voltávamos, era vida normal. Escola e trabalho. As vindas para o Brasil eram um flash. Só tive noção real quando a novela acabou de ser gravada e eu voltei para o país. Era reconhecida direto.
QUEM: E ainda é lembrada pela Pata?
A.O.: Até hoje eu sou reconhecida em todos os lugares (risos).
QUEM: Você permaneceu em "Chiquititas" durante as cinco fases e a Pata sempre teve uma participação expressiva na história. Acredita que tenha ficado marcada, rotulada?
A.O.: Acredito que sim. Foi um trabalho de muitos anos. Muitos anos no mesmo papel e eu continuo muito parecida fisicamente. Pelo menos é o que dizem. Quando acabou a novela já ia fazer 16. Acho que não mudei tanto de lá pra cá. Quem saiu mais nova, mudou mais.
QUEM: Você imaginava que fosse ficar até o fim de "Chiquititas"?
A.O.: A gente sabia que as fases iam mudar, teve uma hora que eu pensei que fosse sair. Mas eu não sofria. Se tivesse que voltar, sabia que teria minha vida com a minha família aqui. Por outro lado, eu sofria muito a cada saída. Cada um que partia era um amigo. Eu sofria tanto com cada despedida que teve um momento em que eu cheguei a pensar: "deve ser mais fácil para quem está saindo do quem para quem fica" (risos).
ARETHA OLIVEIRA E MARIANE OLIVA, A CHIQUITITA MARIAN, EM 1999 (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
QUEM: E a notícia que a novela ia acabar, te pegou de surpresa? Ficou triste?
A.O.: Foram muitas incertezas. Primeiro, a novela ia acabar, depois não ia. Depois ouvíamos comentários de quem a novela continuaria a ser gravada, mas não mais na Argentina e sim nos estúdios do SBT, em São Paulo. Essa parte de indefinições foi bastante sofrida. Até que, um dia, teve uma reunião avisando que a novela deixaria de ser feita.
QUEM: E aí? Como foi receber essa notícia?
A.O.: O sofrimento não era tanto pelo fim da novela. Sofrido, para mim, foi deixar os amigos que tinha feito na Argentina, a equipe de produção.
QUEM: Quem eram suas melhores amigas na época?
A.O.: A Francis Helena, Mariane Oliva e a Fernanda Souza. Fui madrinha do casamento da Francis. Dos adultos, eu encontrei na semana, aqui em Buenos Aires, a Débora Olivieri [a vilã Dona Carmen], foi muito gostoso. Tinha tanta gente querida entre o elenco. Com a Flávia Monteiro, tenho contato por Facebook. Eu me dava muito bem com todos. Também tenho saudade do Gésio Amadeu [o chefe Chico].
NA ARGENTINA, ARETHA OLIVEIRA PARTICIPA DE GRAVAÇÃO DE UM NOVO SERIADO (FOTO: DIVULGAÇÃO)
QUEM: Você está morando na Argentina. Por que voltou a morar aí?
A.O.: Tenho muito amigos, fiquei muito apegada à Argentina. Quando acabei a faculdade há quatro anos, decidi voltar, fiz cursos e fui ficando. Nunca foi algo do tipo "vou mudar definitivamente para a Argentina". Vou e volto. Estudei comédia musical, canto e dança. Foram surgindo alguns trabalhos. No ano passado, gravei um programa para a Discovery, que ainda vai estrear. O papel maior foi em uma novela chamada "Resistire", da mesma emissora que é de "Chiquititas". Também atuei nos seriados "Simuladores" e "Graduados".
QUEM: E você fez papel de brasileira na novela daí?
A.O.: Sim, foi uma brasileira. E o mais difícil para mim foi falar em portunhol. Tenho fluência no espanhol, então me sinto muito estranha ao ter que falar errado (risos).
QUEM: E como é a vida aí?
A.O.: Eu adoro Buenos Aires. Tenho um namorado argentino, moramos em um apartamento de Almadra. Eu o conheci bem depois de "Chiquititas" e ele não é do meio artístico. Aqui, tenho algumas oportunidades de trabalho. Atualmente, estou trabalhando em um projeto de dublagem.
ARETHA COM FLÁVIA MONTEIRO, AS DUAS ATRIZES QUE ATUARAM DO COMEÇO AO FIM DA NOVELA (FOTO: DIVULGAÇÃO/SBT)
QUEM: Depois que você saiu de "Chiquititas", você chegou a fazer teatro e atuar em alguns comerciais. Tem vontade de voltar para a TV?
A.O.: Quando acabei Chiquititas, estava cansada e queria realmente dar uma parada. Queria descansar. Depois, fiz algumas peças como "O casamento da Dona Baratinha", "Chapeuzinho Vermelho", "A Casa Caiu" e "As Mona Lisas".
QUEM: Você também fez uma campanha política?
A.O.: Mas acho que passou só em Minas. Fiz publicidade. Não foi só essa campanha.
QUEM: E a vontade de voltar a trabalhar no Brasil?
A.O.: Eu tenho vontade de trabalhar aí. Sendo um trabalho bacana eu aceitaria, claro. Nunca deixei meu país. Vou e volto. Verão, por exemplo, eu adoro passar no Brasil. Voltar a fazer TV seria maravilhoso.
QUEM: Algumas chiquititas enfrentaram dificuldades após deixar a novela. E você?
A.O.: Por sorte, não tive nenhum problema, tenho uma família que sempre me apoiou. Sempre fui muito pé no chão, estrutura familiar é tudo. Eu nunca me senti nada a mais do que ninguém. Quando o trabalho acabou, acabou. Em nenhum momento fiquei abalada, depressiva, passando necessidade.
QUEM: Você já sofreu alguma forma de preconceito?
A.O.: Antes de nos mudarmos, minha mãe ficou um pouco assustada com o possível preconceito. Uma amiga foi alertá-la e minha mãe conversou com a produção sobre essa questão. Como resposta, ela escutou: "Ela vai ter um problema: Não vão deixar ela ir embora de lá" (risos). E é verdade. Nunca tive problema, nunca mesmo. Falam muito da rivalidade entre Brasil e Argentina, mas é só no futebol mesmo. Não sofri preconceito em nenhum momento, nem no colégio, nem no trabalho. Eles amam. Como na Argentina tem poucos negros, eles acham linda a cor. Nunca fui vítima.
Fonte: Revista QUEM