quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Kung fu de Osasco nas lutas das Chiquititas

O professor Luiz Carlos tem uma longa estrada no kung fu, arte marcial chinesa e com uma história milenar. Faz parte da comissão técnica da Confederação Brasileira de Kung fu, e toca academia própria na zona Sul de São Paulo.

Não faz tanto tempo e Luiz Carlos era atleta da seleção brasileira de wushu (arte marcial), representando o País mundo afora. Competidor de Osasco, hoje é um profissional reconhecido, dedicando-se na formação da nova geração de atletas de alta performance.

Agora ele tem o trabalho visto na televisão, quando assinou a coreografia das lutas na novela Chiquititas, do SBT. Verdade que na telinha tudo é encenação, mas coreografia de luta dá um trabalho danado e exige tempo, muito conhecimento e dedicação.

E como chegou lá? Ele vem num crescendo dentro das artes marciais, e a emissora não teve dificuldades para localizá-lo e pedir consultas sobre luta. A ideia da televisão era colocar algo do tipo karatê Kid na novela.

Isso foi em abril. O SBT pensava num mix de artes marciais, um roteiro que o professor logo descartou, apontando que não encontraria garotos que dominassem vários estilos de luta. “Então, dessa consulta eles optaram somente pelo kung fu e pelo judô.

O professor destaca que os ‘atletas’ em questão eram todos mirins. “Portanto, reunir garotada com mais de uma técnica de luta seria mesmo impossível. Assim, reduzindo para duas modalidades o roteiro seria possível”, explicou.

No mês seguinte, Luiz Carlos voltou ao SBT para lições práticas. Começava o trabalho dele com os atores. Além de ensinar arte marcial e dirigir as cenas de lutas, o professor fica ali durante as gravações, como técnico das cenas.
“Bom, eu nunca tinha feito trabalho com tevê, mas achei muito interessante e vi que tinha a chance de o kung fu ser conhecido na mídia, ainda mais por uma novela infantil de grande audiência”, resumiu o professor.

Assim, até agosto a rotina dele foi dividida entre treinos, aulas na academia e também na televisão. O professor comentou sobre o roteiro. “Os meninos iriam aprender arte marcial (judô) na escola, com um professor ao qual ensinei golpes de quedas e projeções. Depois entrava na novela um ator oriental (menino), que tinha um tio que era mestre de kung fu.”

Todos os personagens envolvidos na luta, aprendiam com Luiz Carlos. “Os meninos do orfanato eram os bonzinhos e treinavam para o torneio com esse mestre de kung fu”, continuou. “Os meninos da vizinhança do orfanato eram os vilões, e treinavam com um lutador de MMA”. Esse bad boy do MMA era Michael Serdan, ícone da luta livre no Brasil.

“Meu trabalho foi dar aulas pra todos, pra terem noção de socos, chutes, quedas, saltos e de lutas combinadas. O grande desafio era que tinham pouca ou nenhuma experiência em artes marciais, e isso dificultou no inicio”, observou o professor.

“Mas com o tempo fui vendo o que cada um tinha de bom, deixando-os aptos para as cenas”. E tem um momento de emoção que Luiz Carlos destaca, quando atuou com o ator Ariel Goldeberg, portador de síndrome de down. “Coreografei direto na cena, um movimento de defesa pessoal na sua participação.”

As cenas tchan do torneio de lutas na novela rolaram no final de setembro. A turma dos bonzinhos formava a equipe Seis Tigres, contra a equipe Serpentes, dos encrenqueiros.

O duelo ficou no empate até a final e, portanto, indo para o tira-teima decisivo. Do lado dos bonzinhos, Fábio foi lutar contra o casca grossa Janjão. E depois de algum susto, Fábio é o vencedor e os heróis fazem aquela festa.
O professor Luiz Carlos tem vários anos de kung fu, formou-se no estilo louva-deus com o mestre Wagner Irineu, da União Tonlon de Osasco, e também é faixa-preta do grão-mestre Li Wing Kay, reconhecido no Brasil pelo estilo garra de águia e ving chun (famoso nos filmes de Donnie Yen, na trilogia de Yip Man, mestre de Bruce Lee).

Depois de muitos anos no chamado kung fu tradicional, Luiz Carlos migrou para o esporte olímpico, o wushu moderno – modalidade do kung fu que exige atletas de alta performance.

Só no wushu moderno ele conta 13 anos de treino com o mestre Thomaz Chan, já sendo 3º grau pela Chinese Wushu Association e International Wushu Federation. Lembrando que no kung fu tradicional ele é faixa-preta 1º grau.

O kung fu moderno tem rotinas acrobáticas como a ginástica, só no fundamento das artes marciais chinesas. Há provas livres, mas também com armas e em equipes.

Quando atleta da seleção brasileira de wushu, Luiz Carlos competiu em vários países e também fez cursos na China, graduando-se na modalidade. Hoje, é uma das principais referências no Brasil. (Márcio Silvio)

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