sexta-feira, 13 de junho de 2014

Aos 83 anos, diretor de “Chiquititas” descarta aposentadoria: “Globo tentou”

A disciplina e o vigor para o trabalho de Reynaldo Boury são invejáveis para seus 83 anos. À frente do setor de teledramaturgia do SBT e diretor geral dos remakes de Carrossel e Chiquititas, ele é o primeiro a chegar ao estúdio, cobra comprometimento do elenco e está sempre atento aos detalhes. Ele acredita, inclusive, que vive um dos melhores momentos de sua carreira.

"Eu achava que já tinha feito de tudo. Mas a vida me surpreendeu e foi generosa. Fazer sucesso com o público infantil a essa altura é um privilégio", analisa o diretor, referindo-se à repercussão e boa audiência das últimas produções lançadas pela emissora.

Natural de São Paulo, Boury impressiona por sua experiência com os bastidores de TV. A estreia foi há exatos 60 anos, como auxiliar de câmera da extinta Tupi. Ao longo do tempo, integrou a equipe de direção de novelas como Redenção, a épica trama de 596 capítulos da Excelsior, e sucessos globais como as duas versões de Irmãos Coragem, Sinhá Moça, Tieta e Meu Bem, Meu Mal.

Aposentado pela Globo em 2000, o diretor não conseguiu ficar parado e foi produzir novelas e passar seu conhecimento para profissionais na Angola. A volta ao Brasil só aconteceu em 2010, quando foi chamado pelo SBT para assumir a pífia teledramaturgia do canal na época.

"As coisas iam acontecendo sem muito controle ou perspectivas. Com o sucesso das tramas infantis, a emissora se prepara para reestruturar e investir ainda mais no setor de novelas", adianta.

Você completou 83 anos no último mês de março. Aposentadoria é um projeto distante?
Reynaldo Boury - A Globo já me aposentou. Quer dizer, tentou (risos). A verdade é que continuar trabalhando me mantém vivo e faz muito bem. Eu já tentei diminuir o ritmo no SBT, mas o setor de teledramaturgia da emissora, enfim, engrenou. Na passagem de Carrossel para Chiquititas, fiquei sem férias, acompanhando tudo de perto. É claro que tenho uma equipe gigante que me ajuda, mas ainda sou o primeiro a chegar ao estúdio.

Depois de alguns meses registrando menos audiência que Carrossel, Chiquititas agora consegue se manter melhor no Ibope, marcando média de 13 pontos. Em algum momento, pensou em abandonar o projeto?
De jeito nenhum. A novela é um grande sucesso comercial. Pelo SBT estar melhor preparado em termos de marketing e mercado, o faturamento é tão bom quanto da trama anterior. E achamos normal que a audiência começasse mais tímida devido ao êxito de Carrossel. Acreditamos tanto no projeto que, até hoje, a gente tenta incrementar a história, inserir novas possibilidades e personagens. Chiquititas tem fôlego e espaço na grade para ficar até os 455 capítulos.

Você é famoso por ter dirigido Redenção, novela exibida pela Excelsior em 1968 e que durou 596 capítulos. O que acha da longa duração de Chiquititas em tempos onde as novelas da Globo estão diminuindo de tamanho?
Acho que são produtos diferentes. A Globo está tentando reconquistar seu público noveleiro. O SBT quer manter as crianças por perto. Chiquititas não é uma telenovela tradicional e monótona, sempre está acontecendo alguma coisa e está em dia com o cotidiano das crianças. Nosso trabalho em manter a equipe unida e motivada é intenso.

Como isso é feito?
Montamos todo um aparato para o elenco infantil conciliar da melhor forma possível a escola e o trabalho nos estúdios. E claro que o sucesso da trama deixa todo mundo com mais vontade de fazer parte disso. O mais difícil é lidar com os pais das crianças. Esses são os que mais atrapalham meu trabalho e nunca estão satisfeitos (risos).

A última trama de temática adulta dirigida por você foi Amor e Revolução, de 2010. Sente falta de trabalhar para outro tipo de público?
Com certeza. Mas isso é algo que já está sendo arquitetado pelo SBT. A ideia é ter um segundo horário de novelas, para conquistar os pais que assistem às tramas infantis com seus filhos. A gente queria fazer isso já este ano, mas a emissora achou melhor adiar por causa da Copa e das eleições, o que vai concentrar os investimentos em programas voltados para estes dois temas. Portanto, em 2015 teremos uma nova trama infantil ainda não escolhida e outra novela de perfil mais adulto.

Comente com o Facebook: